sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

1 - BUDO - Desenvolvimento histórico das Artes Marciais

Resumo:

Definição de Artes Marciais e um análise das razões que possibilitaram seu vigência através dos séculos e que hoje fazem delas um excelente sistema educacional alternativo.


Principais temas tratados:

* Sócio-biologia, desde a idade de pedra - Teoria da evolução das espécies.
* Teoria do Gene egoísta - Richard Dawkins.
* Os repicadores e as máquinas de sobrevivência.
* A cultura, um replicador muito especial.
* Condições para a sobrevivência dos replicadores.
* Desenvolvimento do Budo (Artes Marciais) e razões de sua vigência através do tempo.
* As lutas existem desde o inicio da história.
* Os clãs e seus ensinamentos secretos.
* Ocidente pode ter sido a origem das Artes Marciais.
* Oriente e Ocidente duas formas distintas de entender a morte.
* Ocidente vence, mas fica admirado com a cultura japonesa.
* Japão e a guerra comercial.
* Experiência japonesa com as Artes Marciais.
* As Artes Marciais no resto do mundo.



Sócio-biologia, desde a idade de pedra.

Desde os mais antigos documentos históricos encontrados, a luta forma uma parte inseparável do acervo cultural e social de todas as espécies na terra.
Durante muito tempo se falou da luta pela sobrevivência, baseando-se na teoria da evolução das espécies desenvolvida por Charles Darwin.


Esta teoria postula o fato que todas as espécies vão mudando geneticamente e adaptando seus comportamentos, formas e habilidades.

Só as que na concorrência com outras espécies triunfam, se projetam para as novas gerações, cada vez mais numerosas, de acordo ao sucesso conseguido na tarefa de sobreviver.

Não vamos estender sobre esta teoria básica, senão sobre um dos desenvolvimentos modernos que se basearam nela, e que é conhecida popularmente como Teoria do Gene egoísta

desenvolvida pelo prestigioso biólogo Richard Dawkins.


Nela se propõe, que o desenvolvimento dos seres vivos sobre a terra foi e é baseado na multiplicação de uns organismos primitivos chamados os primeiros replicadores.

Que todas as formas de vida que se desenvolveram (incluídos os humanos mesmos) não são mais que máquinas de sobrevivência desenvolvidas por estes replicadores.



Os repicadores.

Eles têm uma vida quase eterna (passam sem mudanças de uma geração à seguinte) e que não possuem uma inteligência no sentido que nos, humanos, damos para ela.


Possuem a habilidade, desenvolvida através de milênios de existência, de gerar as maquinas que os contêm (uma ameba, um cão, um homem) e pelas quais se deslocam no espaço, no tempo e principalmente, se perpetuam no tempo.

O mundo nesta teoria não tem nada de angelical, nem nada de demoníaco, simplesmente é como é.

Desde o começo se postula que não é o altruísmo (fazer coisas em desmedro próprio para ajudar a um ou muitos de minha espécie) o que perpetua às espécies, senão o egoísmo total e absoluto dos replicadores.

Esta teoria dá respostas a muitos interrogantes que a biologia não era capaz de provar satisfatoriamente e explica muitos comportamentos supostamente altruístas como o caso das formigas.



Elas formam uma ponte sobre a água com seus próprios corpos afogados para que o resto do grupo possa passar sobre elas com seus carregamentos de materiais e comida.

Este comportamento não é aceito como altruísta senão como egoísta no nível dos replicadores.

Como toda teoria científica não deve ser extrapolada para tirar conclusões filosóficas sem conhecer primeiramente sua abrangência e seu alcance.

Mas é impossível evitar, à medida que se avança em sua leitura, a sensação de um mundo onde a regra é o egoísmo e onde a perfeição da vida é só uma construção mecânica para a sobrevivência dos genes.



As idéias na cultura, um replicador muito especial.

Atento a que é quase impossível evitar às deprimentes idéias que nos gera o estudo desta teoria, seu autor, abre uma porta à esperança.

Explica que a máquina de sobrevivência chamada ser humano foi dotada de consciência de si mesmo a diferença do resto da vida sobre a terra.

Este tipo de inteligência gerou a Cultura, que poderia ser tomada como um novo caldo de cultivo para um novo tipo de replicadores que ao igual que os genes procuram e conseguem se perpetuar.

Estes novos replicadores não têm uma existência física e só vivem dentro da maré cultural que forma o interagir das inteligências comunicadas dos homens, estes novos replicadores são as idéias.



Condições para a sobrevivência dos replicadores.

Mas para perdurar a parte do egoísmo, são necessárias várias outras ações em formas de regras, dentro da teoria, se propõe que para que alguma coisa se perpetue no tempo, deve se cumprir que:

1 - Os replicadores devem ter uma alta taxa de fecundidade.

2 - As cópias geradas (replicadas) devem ser o mais parecido possível ao original.

3 - Os replicadores devem ser o suficientemente longevos como para se replicar em quantidade.

É de notar que, por exemplo, uma idéia que tem perdurado no tempo, é a do Deus monoteísta dos Judeus que se perpetuou, formando milhões de pessoas que cresceram numa filosofia Judeu-Cristã através de milhares de anos.

Vamos analisar que esta idéia cumprecom as regras dantes mencionadas

1 - Se cumpre por proibir o controle de natalidade com o qual a taxa de fecundidade historicamente foi alta.

2 - Cumpre-se por ter o livro isto é a Bíblia, escrita e respeitada que fez que as idéias e usos se transmitissem de uma geração à seguinte da forma mais fiel possível.


3 - Cumpre-se pela proibição de suicidar-se e de matar que rege nestas religiões.



Desenvolvimento do Budo e razões de sua vigência através do tempo.


Budo, de aqui em adiante, representa qualquer tipo de treinamento psicofísico que parta das premissas de treinar as formas e os comportamentos num combate, físico, desportivo, real ou simulado.

Desde seus inícios o homem combate por seu sustento, sua comida, sua moradia e seu espaço em general, isto motivou que também se fossem desenvolvendo com o tempo, lutas pelo poder.


As lutas existem desde o inicio da história.

Não importa o lugar físico nem a cultura, as lutas foram se desenvolvendo e se refinando de acordo ao desenvolvimento e requinte das sociedades em que se desenvolviam.

O homem como animal de físico pequeno e características fisiológicas não tão dotadas para a luta como outras espécies (grandes mamíferos e felinos especialmente), desenvolveu a estratégia como valor agregado que o diferenciava e fazia superior aos animais mas dotados.

Construiu ferramentas, aprendeu a manejar seus instintos, a atacar quando lhe convinha, e a se ocultar ou fugir quando o considerava necessário.

Com o decorrer do tempo, foi posicionando-se como o mais perigoso animal sobre a terra.

Em pouco tempo, dominado o risco que implicava o meio ambiente, começaram as lutas entre eles mesmos, e ao ter defronte um adversário de similares características físicas e intelectuais, a luta foi se refinando, a força bruta começou a ser anulada por meio das estratégias inteligentes de combate e adaptação ao meio.

Os homens dividiram-se em clãs, e estes lutaram internamente para obter o poder dentro do grupo e externamente para conquistar a outros clãs.


Os clãs e seus ensinamentos secretos.

Estes conhecimentos foram transladando-se de geração em geração e deram lugar a ensinos secretos para obter poder dentro do clã (comportamento, política, governo e administração do poder e os meios) e dominar a outros clãs (disciplina, tecnologia, exércitos, estratégia).

Dentro de cada clã foi formando-se uma classe guerreira encarregada de controlar aos dissidentes internos, defender aos poderosos dos ataques externos e conquistar outros para dar mais poder aos dirigentes do mesmo grupo.

Desde aproximadamente mediados do século XIX, começaram a interagir mais freqüentemente os dois grupos maiores da humanidade, Oriente e Ocidente.



O Ocidente pode ter sido a origem das Artes Marciais.


Os ocidentais tinham desenvolvido suas artes guerreiras por meio do antigo boxe grego (pankration), e a luta com espadas, massas, arcos e catapultas da idade média, a cavalaria, e principalmente, pelo uso da pólvora e o desenvolvimento de armas de destruição em massa.

Pistolas, fuzis e canhões, permitiam matar de longe, sem ver a cara do atacado, sem sentir nem seu hálito nem seu sangue, com muito menor comprometimento da sua integridade física, resguardada pela distância desde onde se atacava.

Este jeito de brigar era socialmente aceitado, em ocidente e em todos seus sistemas religiosos e filosóficos, a idéia de matar a outro ou se fazer matar, era socialmente muito mal vista (além do natural instinto de sobrevivência) mais se a luta era para impor o bem ou para defender nossos seres queridos dos bárbaros e seus costumes, a guerra era socialmente aceita.

Isto gerou uma separação entre as guerras simuladas, para entretenimento cidadão (olimpíadas, xadrez, boxe, luta livre, etc.) da organização militar e policial, especializada em promover meios tecnológicos que procuram infringir a maior quantidade de mortes possíveis ao inimigo da forma mais rápida e cirúrgica possível.



Oriente e Ocidente duas formas distintas de entender a morte.

Em oriente, a pólvora conhecia-se desde muito antes e era usada fundamentalmente em fogos de artifício Chineses.

O conceito da morte, não era o princípio fundamental de seus sistemas filosóficos (taoísmo, confucionismo, xintoísmo, zen).

Em todos estes sistemas o enfoque e o modelo eram muito mas holísticos e integradores, pondo como bem supremo, a harmonia, o comportamento e a forma, se tinha que morrer, morrer aqui e agora e era mas importante uma correta forma de matar ou de morrer que viver indignamente.

Principalmente, o crescer dentro de um sistema filosófico que tem como mais alto referente à natureza fez que se criasse uma responsabilidade individual mas direta, com respeito aos atos e decisões próprias, a lei do karma faz-nos responsáveis ante nós mesmos de nossos próprios atos sem que apareça a idéia de um Deus que julga nossas ações.

A distância filosófica entre culturas pode ser conferida no seguinte exemplo:

O caráter chinês para descrever uma árvore é idêntica ao da palavra madeira, isto significa que para um chinês a árvore É madeira.

Em qualquer linguagem ocidental existem duas palavras diferentes para estes dois objetos (árvore e madeira), por que para um ocidental, a árvore É FEITA DE madeira, o é feita, significa que alguém o fez (neste caso está subjacente a idéia de Deus).

Os ocidentais através de nossa busca tecnológica avançamos num caminho de des-humanização na que o homem é cada vez mas uma máquina, e matar máquinas é tão aceitável como no passado foi matar infiéis ou bárbaros.

Para os orientais matar era válido por outras razões, por exemplo, a honra, e dentro de seu sistema de castas, deviam defender um código de honra que impregnava todos seus atos.

Não existia inconveniente nenhum que um Samurai cortasse a cabeça de um camponês, se este último não tinha baixado o olhar ante ele, mas o corte devia ser feito aqui e agora e depois, continuar com seu passo normalmente, como se nada tivesse acontecido.




Ocidente vence, mas fica admirado com a cultura japonesa.


Nos confrontos modernos entre japoneses e ocidentais, estes últimos ficaram maravilhados do valor e disciplina que demonstravam os guerreiros do Japão, mas isto não impediu que esmagassem eles com seu enorme poder tecnológico-bélico, ambas as sociedades aprenderam, mediante o derramamento de sangue, alguma coisa da outra.

Os ocidentais a procurar as razões que permitiam a valentia absolutamente desapaixonada dos orientais e estes últimos a não ignorar a tecnologia como base de seus projetos.



Japão e a guerra comercial.

Muito especialmente os japoneses, transformaram a guerra no comércio mundial globalizado, os clãs em empresas, os guerreiros em gerentes e as armas em produção.

Para isso, basearam se em seus antigos textos e conhecimentos e trouxeram novamente à tona as artes Marciais, o livro dos cinco anéis e a arte da guerra entre outros textos para dirigir as novas estratégias comerciais.

E foi-lhes muito bem, tanto que em EEUU e Europa de começaram a estudar as técnicas orientais de produção.

Geralmente se ignorava à indústria japonesa por que se dizia, que só eram capazes de copiar e que não tinham o talento necessário para criar nada novo.

Existe um episódio que ilustra muito bem este último fato:

Uma empresa fabricante de relógios Suíça, enviou-lhe num envelope a uma indústria similar japonesa um pequeno fio perfeitamente torneado, de largo aproximado à milésima parte do diâmetro de um cabelo.

Numa semana, a indústria suíça recebeu num envelope o mesmo pequeno fio com a indicação que o revisassem num microscópio, ao fazer encontraram que os japoneses tinham feito um buraco perfeitamente circular ao longo do capilar, convertendo-o num inverossímil tubo.

Mas os japoneses não copiavam somente, passado um período onde obtiveram o coração da tecnologia, começaram a criar, e dominaram o mundo, sendo hoje parte do famoso grupo dos sete como se conhece às economias mais desenvolvidas do mundo.

Somente há que pensar que para mediados do século 1900, Japão estava vencido militarmente, destruído fisicamente, avariado em sua economia e quebrado na sua moral, desta forma se pode apreciar em toda sua magnitude, o incrível sucesso que tiveram ao longo destes últimos 50 anos.


E não esqueçamos que tudo isto se conseguiu utilizando o princípio de Kihon herdado das antigas artes Marciais, mas atualizado com inteligência no tempo.



Experiência japonesa com as Artes Marciais

Calcula-se que aproximadamente pelo ano 1200 de nossa época, se começaram a armazenar e codificar dentro de um clã dirigente, os primeiros métodos de combate que foram conhecidos com o nome de Bu-Jutsu ou seja Artes de Guerra.

Seu principal mentor foi um especialista em medicina e geral de então que se dedicou a estudar os sistemas musculares e articulares de cadáveres e a recriar as técnicas de luta, de acordo com seus novos conhecimentos anatômicos e fisiológicos.


Estas técnicas foram transmitindo-se secretamente dentro de cada clã dirigente e evoluindo mediante o método de prova e erro, por esse então, guerras não faltavam, é os que faziam técnicas incorretas ou inúteis, não costumavam viver o suficiente como para transmitir suas técnicas a seus sucessores.

Os que possuíam boas técnicas sobreviviam mais tempo (longevidade), estudavam com maior atenção as técnicas que lhes ensinavam (fidelidade na cópia).

Ao viver muitos anos e seguir numa posição econômica e de poder importante, tinham muitos filhos e governavam grandes clãs (fecundidade).

É de observar que se cumprem as três condições para a o sucesso dos replicadores citadas ao princípio deste capítulo.

Através das gerações a arte foi-se provando e refinando e encontrou-se que a forma mais eficiente de combater, não era a força bruta, que muitas vezes cedendo avançava-se, que a flexibilidade e adaptabilidade costumavam triunfar ante a dureza e as idéias preconcebidas.

A arte foi gradualmente mudando seu nome para Ju-Jutsu ou Aiki-Jutsu que significam A arte guerreira da suavidade ou da harmonia, respectivamente.

Os conceitos eram cada vez mais delicados, procurava-se unir-se ao adversário, para anulá-lo, centrar o movimento conjunto resultante sobre o centro próprio, desenvolver a energia interna, não se apegar a nada nem a ninguém, não ter propósitos e muitos conceitos do mesmo tipo nascidos da união da filosofia Zen com as Artes Marciais.

Todo este desenvolvimento seguia exclusivamente em mãos da aristocracia dirigente, de seus guerreiros e longe do povo, que de fato tinha proibido o uso da típica espada samurai conhecida com Katana.

É importante fazer notar que a casta guerreira samurai não só se encarregava de guerrear com outros clãs, senão que era a encarregada dos assuntos internos isto é, funcionava como polícia e coletora de impostos ante os camponeses.

Estes últimos foram desenvolvendo técnicas a mão nua (Kara-Te) e utilizando suas ferramentas de trabalho (Ko-Bu) de forma tal de poder defender-se dos samurai.


Em seus confrontos os camponeses temiam à espada samurai (que uma vez tirada da bainha implicava uma morte quase segura) e os samurai das tomadas por surpresa de um ou mais camponeses que lhes impediam tirar sua espada, com o qual se encontravam a graça das rudes mãos, pés e ferramentas de trabalho adaptadas para à luta (alavancas, remos, paus de transporte, moedoras de arroz).

Isto gerou nos camponeses e nos samurai, uma série de técnicas, algumas para poder tirar sua espada estando tomados e outras para impedir ser pegos, baseadas na flexibilidade, a atenção contínua (zanshin) e o relaxamento, pondo as bases do que a futuro de conheceria como judo.


O famoso princípio: se puxam de ti, te deixa levar, se te empurram, deixa passar.

Se diz que esta frase foi criada por um médico e estudioso das artes Marciais que via como a neve acumulada nos galhos das árvores mais duras, terminavam quebrando eles, e como os flexíveis suportavam a neve até o limite da sua flexibilidade e depois a deixavam cair, voltando, descarregadas a sua posição habitual como se nada tivesse acontecido.



Esta foi a última grande mutação das artes Marciais, onde o vocábulo Jutsu (artes guerreiras) foi substituído por Do (caminho do conhecimento).


Experiência no resto do mundo

Tudo o anteriormente dito para Japão, conceitos mais ou menos, se deu também em China, Coréia, Vietnã e Tailândia, com variações de acordo aos tipos fisiológicos mais gerais em cada geografia (os países ou áreas com gente mas alta, desenvolveram mas o uso das pernas, e os mas pequenos o uso dos punhos).

Criando ao dia de hoje uma impressionante lista de artes Marciais que compartilham origens similares, embora hoje, estão totalmente diferenciadas nas suas técnicas, usos e metodologias.

Em Oriente

Índia e Paquistão: Silat

China: Kung-Fu (em todos seus estilos), Tai Chi Chuan.

Japão: Jujutsu, Judo, Karatedo, Aikido, Kobudo, Kendo, Iaido

Coréia: Taekwondo, Hapkido, Sipalkido

Vietnã: Viet-Vo-Dao

Filipinas: Muay Thai

Em Ocidente

Grécia: Pankration e lutas varias

Inglaterra: Boxe

Itália e outros: Esgrima

Brasil e angola Capoeira

Rússia Sambo

França Savate

EEUU e Europa Full e Ligth Contact, Kick Boxing

















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