terça-feira, 24 de março de 2009

Tem futuro as Escolas de Artes Marciais?


Eu sei que este é um tema muito polêmico e espero que possa transmitir ele com clareza.

Depois da explosão do Judo, do Karate, do kung-Fu, do Taekwondo e logo do Aikido e o Jiu-Jitsu, cada um deles impulsionado por algum filme, ator ou noticia nos jornais.

Cada um deles tive sua década de "moda" e crescimento até seu substituído por outra novidade.

Deixaram, cada um deles, estruturas, professores, mestres e alunos organizados em escolas que após do ápice do crescimento, foram saindo da mídia e ficaram estagnadas quando não desapareceram de vez.

Nos últimos anos, não somente no Brasil senão em todo o mundo, as coisas ficaram assim:

1)Tem escolas que viraram somente esportes e ainda tem um pequeno espaço de crescimento pelas noticias esportivas na mídia mas quase perderam todas suas características de Artes Marciais sendo catalogadas como "lutas esportivas"

2)Tem grandes associações lideradas por mestres que tem trabalhado muito e conseguido sobreviver, quase sempre baseados em personalidades altamente carismáticas, além de seus conhecimentos técnicos e pedagógicos.

Esta última categoria somente é sustentável pelo fato de se desenvolver numa central com classes ditadas pelo mestre (o que atrai muita gente) e outras aulas quase sempre ministradas por os alunos mais jovens e graduados que oferecem seu trabalho em troca da experiência de "ministrar aulas na Central do mestre .... " sem cobrar nem representar cargas para a associação.

Isto permite juntar o chamariz do nome de um grande mestre, com estruturas grandes e perto das grandes cidades, junto com um amplo leque de horários e baixo custo.

Também existem os alunos que querem fazer sua própria experiência e abrem locais de treinamento fora da da central, eles com muito sofrimento e dificuldades geralmente ficam nos bairros da periferia, tem custos bem mais em conta e locais de treinamento não dedicados exclusivamente ao ensino da sua arte, senão compartilhados com outros (o típico caso das academias de musculação que tem Artes Marciais na sua grade de ofertas).

Nestes locais além de não contar com o carisma e nome do diretor, o instrutor tem que lidar com o dono da academia que geralmente quer retorno rápido (isto é muitos alunos) e vai exigir cadastramento no conselho de educação física, horários ruins e instalações que não prestam para o ensino complexo das Artes Marciais.

Tem milhares de razões para explicar por que estas opções não conseguem prosperar, mais ainda quando as organizações centrais pedem parte do pouco dinheiro juntado para organizar seminários com o mestre ou para pagar viagens dele e direitos de exame.

Dentro deste modelo é lógico que somente sobreviva o local Central, já que todo está direcionado para seu sucesso, inclusive em detrimento das sucursais.

Entre os instrutores que tentam difundir a sua Arte fora das estruturas centrais (ou dentro delas mas em horários alternativos e sem participação na administração do local) também existem outras categorias:

A) Os ambiciosos que desejam crescer de qualquer jeito, que geralmente vão trocando de mestres, organização e inclusive de Arte de acordo a suas necessidades.

B)Os "bem intencionados" cheios de boas idéias, sem outras ferramentas que uma enorme paixão pela sua atividade e que sustentam a estrutura central.

Sei perfeitamente que estou generalizando e que existem outras possibilidades mas para fazer uma análise da situação me vejo obrigado a excluir as exceções.

Acho que por tudo isto, é bastante difícil encontrar grupos que possam sobreviver vários anos, com os mesmos participantes.

Por isso geralmente os mestre é rodeado por jovens instrutores e os de idade media com mais experiência abandonam o treinamento.

Também a gente de fora termina percebendo com clareza que as Artes Marciais muitas vezes se fala uma coisa mas se faz outra:

Exemplos:

"Não existe a competição com outros, a verdadeira luta é dentro de você mesmo..."
Mas nos jornais vemos constantemente notícias de "Torneios de Artes Marciais e lutas" com a participação ativa ou passiva de muitas escolas que promoveram frases como a acima escrita.

"O dinheiro não é importante"
Mas deixe de pagar 1 ou 2 mensalidades e está fora, e para fazer um exame tem que pagar e para treinar precisa de roupas, escudos, armas, etc. etc.

"A humildade é o mais importante"
Mas muitos instrutores passam falando que sua Arte é muito melhor que a outra assim como sua escola tem muito melhor técnica, etc. etc...

"Harmonia e união"
Mas qualquer escola quando tem mas de 20 alunos e 2 professores sofre de partições e já aparecem dois ou três novos estilos cada um deles falando que é o mais eficiente, o mais real e melhor que os outros.......

Então, a gente de fora não é tão ingênua assim, se os que treinam durante anos estes sistemas, são assim, evidentemente estes métodos não servem para desenvolver o que eles prometem....

Existe ainda uma outra categoria de grupos onde todos rodeiam ao superior de uma aura mágica e mística, onde nada se comprova nem se discute, onde o superior é uma espécie de semi-deus estas estruturas tendem a perder a técnica e os objetivos e terminam sendo simples ferramentas de auto-promoção de seus lideres.

Na outra ponta da linha, os projetos sociais que geralmente são direcionados para as comunidades carentes, onde o professor ministra aulas de graça (ou quase) e os alunos tem roupas e outras despesas bancadas por empresas ou políticos que colocam parte do seu dinheiro em troca de publicidade.

Quase sempre terminam em um ou dois anos, seja por que o instrutor fica cansado ou por falta de interesse dos alunos, coisa que geralmente ocorre quando tudo é oferecido de graça, sem nenhum compromisso formal.

Bom, até aqui uma visão pessimista da situação atual, mas que permite analisar o que se pode observar na realidade.

Mas, depois de este análise, pode que exista alguma outra razão formal para a endêmica falta de interesse a logo prazo sofrida pelas escolas de Artes Marciais?

Pode que exista também uma razão social?

A sociedade da internet quer tudo JÁ e de graça.....

A psicoanálise por exemplo já sofreu de esta tendência onde os pacientes não querem se comprometer em tratamentos longos, caros e que requerem que o paciente se comprometa fortemente....

Todos sabem que para solucionar grandes problemas se requerem grandes esforços, mas aparecem constantemente tanta publicidade de terapias rápidas, mágicas, baratas e sem esforço, que quase ninguém quer suportar o esforço para conseguir suas metas.

No caso das indústrias do entretenimento e música isto já ficou bem claro...

Hoje os músicos não tem ganhos pela venda de sus CD´s através das companhias senão através de suas apresentações em direto e em shows.
As músicas podem ser até baixadas de graça na internet.

Será que as Artes Marciais (e o ensino de Artes no geral) também vão seguir um modelo assim?

Hoje quase tudo ser obtido na internet, textos, opiniões, técnicas, análises além dos endereços e características de cada escola.

O único que não pode ser obtido assim é a experiência, não seria lógico que os mestres ou professores realizem seminários e palestras com participação oferecendo para o aluno uma experiência real do que se pode obter na Arte?

Com objetivos claros e humildes mas com possibilidade de ser atingidos numa única experiência.

A gente que somente estivesse procurando por uma experiência ficará satisfeita e a gente que quisesse aprofundar nestes conhecimentos vai se matricular numa escola formal, que ainda continuará a existir mas somente para os que realmente desejem fazer esforços para apreender.

Ou seja, uma mistura de informação obtida na internet, com experiência real repassada de pessoa a pessoa onde muitos dos participantes vão colaborar com novas idéias nascidas da sua experiência, outros partiram para o ensino formal e outros simplesmente decidiram não continuar.

É um outro modelo, ainda não definido, mas que tenta se adaptar à realidade.

1 comentário

Bushikai disse...

Muito bom artigo e gostei da forma pragmatica como identifica a questão. Chamando os bois pelos nomes como se diz em Portugal.
É uma verdade que este é o panorama actual das Artes Marciais.Em todo o mundo.
Como em tudo existem pessoas boas e menos boas no seu ensino e na prática e objectivos da sua prática de AM. Tambem é verdade que nem todos poderão ser praticantes de Artes Marciais a longo prazo. Em Portugal, na Bushikai, tentamos manter um equilibrio entre algumas destas questões. E acima de tudo transmitir bons valores aos nossos praticantes.
Os meus parabens e continue a escrever.
http://www.bushikai.eu

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