A vida quotidiana é o caminho.
Joshu perguntou a Nansen: Qual é o caminho?
- A vida quotidiana é o caminho respondeu Nansen.
É possível estudá-la? Perguntou Joshu.
- Se tentares estudá-la, estarás bem longe dela disse Nansen.
Se não posso a estudar, como saberei qual é o caminho? Perguntou Joshu.
- O caminho não pertence à percepção do mundo explicou Nansen, também não pertence à falta de percepção do mundo.
A cognição é um engano e a não cognição carece de sentido.
Se desejares atingir o verdadeiro caminho, além da dúvida, situa-te na mesma liberdade que o céu.
É muito difícil separar o princípio de Tenkan do princípio de Irimi, aliás, normalmente se fala de Irimi-Tenkan como um movimento só.
Já detalhamos que Irimi significa entrar, agora bem, entrar pode ser bater defronte contra o golpe ou o problema e já sabemos que não é isto o que estamos procurando.
É interessante observar como o movimento do Irimi mais o Tenkan (e mais adiante, a técnica completa) podem se descrever como um OITO (8) deitado ou uma dobre hélice, forma que também representa à molécula de DNA ( Acido Desoxirribonucléico)
O Tenkan costuma ser explicado como um giro ao redor do movimento externo, mas em realidade é bastante mais que isso.
Deve-se realizar um giro de 180 graus e inverter totalmente a direção de nosso movimento até igualar a direção da solicitação externa, mas tudo isto sem bater nem tentar mudar a direção dela e virando sobre nosso centro.
Tende-se, quando há interação , por exemplo, entre duas pessoas a tomar o ponto de contato como centro comum aos dois corpos e movimentos para virar ambos com eixo nesse centro comum.
Isto faz que ambos os corpos sofram igual força centrífuga em direção oposta ao movimento desejado.
Deve transformar-se o centro próprio no centro do movimento de ambos.
Isto é: mediante o Irimi, devemos anular parte da potência do ataque, esta anulação ou diminuição da potência externa, simplesmente fazendo Irimi ocorre por várias causas.
O melhor modelo para explicar o que realmente ocorre ao fazer Irimi é de origem físico - psicológico.
Como atacantes temos um objetivo (neste caso, bater com nossa mão adiantada a cabeça de alguém que está em frente a nós, a um passo de distância, aproximadamente).
Nosso sistema de "piloto automático" calcula a distância, a potência necessária para completar o deslocamento e a ação, o tempo necessário para subir a mão e para baixá-la sobre a cabeça do outro.
Nosso cérebro em base a nossa visão e percepção do espaço (na qual se usam todos os sentidos, por exemplo, os mecanismos do ouvido interno para avaliar nosso equilíbrio) foca o movimento, isto é, calcula como chegar ao lugar determinado no menor tempo possível com a maior potência.
Por milhares de comportamentos herdados e aprendidos, conhecemos a reação comum de qualquer um que é atacado desta maneira (retroceder, se deslocar de lado, levantar uma mão para se proteger, etc.) e esperamos que o outro executasse alguma destas ações conhecidas.
Este esperar faz parte do modelo que nosso cérebro utiliza antes de executar o ataque.
E variando de acordo à experiência prévia de cada um, durante o desenvolvimento dele, esperamos pequenas "micro-ações" e ficamos preparados para atuar de diversas formas, segundo o acontecer dos fatos.
Todo este processo é puramente automático, o reconhecimento que as coisas saem como esperávamos brinda-nos uma confiança e segurança que se refletem na qualidade de nossa execução e que normalmente descrevemos como eficiência, experiência e qualidade.
Nossos comportamentos aprendidos e herdados indicam-nos que há duas possibilidades de ação ante um ataque externo, fugir ou lutar.
Veja neste vídeo como o selecionado de Rugby da Nova Zelanda executa o "Haka", uma dança ritual que tem como um de seus objetivos, intimidar ao rival.........
Consideremos que o outro, realiza um Irimi, não está nem fugindo nem brigando, senão se movendo para o centro de nosso movimento, com o ângulo justo e exato para não bater conosco.
E que coisa acontece quando nos encontramos que ao executar um ataque contra outro, não obtemos dele a reação que esperamos?
Tudo isso, que antes descrevemos como experiência, desaparece, não somos capazes de seguir realizando nosso movimento com o "piloto automático".
Vemo-nos obrigados a corrigir o foco no caminho e sabemos que nossos cálculos prévios de tempos, deslocamentos e potência, já fracassaram.
Ainda podemos corrigir o desenvolvimento do movimento e inclusive golpear a cabeça de nosso adversário, mas sem a potência nem a efetividade que esperávamos.
Mas as inevitáveis leis da física (princípio de inércia, etc.) e certos princípios mais sutis de nossa psicologia, fazem que nosso movimento continue, inclusive com nossa mente querendo parar.
Ou seja, gerou-se um desequilíbrio ou dês-harmonia entre o que quer nossa mente (frear, corrigir, retroceder) e o que nosso corpo efetivamente continua fazendo (acelerar, avançar, bater).
Este desequilíbrio em nosso ser é o que nas Artes Marciais é conhecido como Suki ou abertura da guarda.
Gerou-se uma abertura por onde se pode atacar, sem que o outro tenha uma possibilidade razoável de resposta efetiva.
Em muitos antigos sistemas de combate, esta abertura foi usada para destruir ao outro, atacando-o depois de gerar o suki.
Nas modernas Artes Marciais, esta abertura é utilizada para controlar ao outro, de ser possível, sem danar-lo, já que se o suki foi bem gerado, e nosso movimento segue centralizado o outro não oferece nenhum perigo para nós.
O Tenkan é o elo que une ao Irimi com o resto da técnica.
Geração do desequilíbrio com a execução da técnica até conseguir imobilizar ou deslocar ao agressor.
O Tenkan é muito mas que girar, é visualizar o mesmo que visualiza o agressor.
É sentir o que sente o agressor é esquecer rápida e totalmente o Irimi para concentrar-nos no resto da técnica e não perder nosso centro.
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