quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

3 - KOKIU - Uma forma diferente de Fazer

Quando as atividades se fazem com KI

Qualidades



Quando se reconhece a Beleza no Mundo
Conhece-se o que é a Fealdade;
Quando se reconhece a Bondade no Mundo
Aprende-se o que é a Maldade.
Deste modo:
Vida e morte são abstrações do crescimento.
Dificuldade e facilidade são abstrações do progresso.
Perto e longe são abstrações da posição.
Força e debilidade são abstrações do controle.
Música e fala são abstrações da harmonia.
Antes e depois são abstrações da seqüência.
O sábio controla sem autoridade.
E ensina sem palavras.
Ele deixa que todas as coisas ascendam e caiam
Nutre, mas não interfere.
Dá sem lhe pedir.
E está satisfeito.


Tao Te King. Lao Tse

Diz-se que uma pessoa tem KOKIU quando ao realizar alguma atividade, demonstra a perfeição que só se atinge com a conjunção de vários elementos como a experiência, a economia de movimentos e por, sobretudo, a perfeita unificação entre o executor e a atividade.



Na linguagem popular conhece-se como "manha", ou uma forma de fazer com qualidade e simplicidade.

Quando um artista marcial realiza uma técnica, durante anos mantém uma separação entre ele mesmo e a técnica executada.

Com o decorrer do tempo, treinamento e compromisso adequado, a técnica começa a ser incorporada isto normalmente se interpreta como uma simples automatização da resposta a uma solicitação.

Mas na realidade é muito mais que isso: já que o que se conseguiu é que os princípios básicos que regem o movimento e a realização correta da técnica se executem como nossa resposta normal na vida diária.

Daí que a execução de uma técnica passe a ser algo tão simples como caminhar.



Mas cuidado!, até aqui só falamos da automatização e aqui recém começa o caminho.

Ao poder realizar a atividade de forma automática, nossa mente fica livre de ocupações mecânicas de controle físico e ante ela se abrem dois caminhos:

Podemos deixar a mente vagar por onde ela bem quiser.

Com o qual nunca superaremos a etapa do automatismo.

Ou podemos nos concentrar absolutamente na atividade que realizamos.

Nesta segunda opção, é de ressaltar que, uma vez conseguida a automatização, podemos pela primeira vez, nos concentrar na atividade (pintar, conduzir, realizar uma técnica marcial) e não na forma de nos mover, se esta nova liberdade é bem aproveitada se abre um novo caminho.

Vamos pôr como exemplo, a um musico que tenta executar uma peça pela primeira vez.



Para poder ler a música com seus ritmos e harmonias deverá ter praticado e estudado muito tempo com alguém que conheça a linguagem de comunicação (o mestre).

Logo entrará na etapa de poder traduzir para sons de seu instrumento o que lê na partitura, junto com o mestre que corrigirá detalhes até conseguir uma técnica aceitável.

De aqui em adiante, abre-se uma nova etapa onde o executante, interpretará uma e outra vez a peça, mas atento aos detalhes técnicos que ao som que gera.

De repente, num dia, encontra que já pode tocar a peça praticamente de cor, e que todos os detalhes técnicos com os que ele lutou se incorporaram naturalmente a sua forma de executar a melodia (a técnica) com seu instrumento (seu mente-corpo).



Nesse ponto, mudará radicalmente a forma de seguir evoluindo, já que, agora pode se concentrar em escutar sua música.

Através de seu gosto artístico, modificar sua técnica, não baseado na forma (técnica básica) de executar, senão em seu sentimento para o som gerado (kihon).

Quando falamos de sentimento falamos do impacto sobre seu corpo e sua mente, gerado pela interpretação.

O objetivo final não deve ser a automatização (faixa preta, nas Artes Marciais), senão o desenvolvimento contínuo através do sentimento e da expressão artística que só se pode começar a experimentar, logo de ter conseguido a automatização da execução.

Quando observamos um artista marcial experiente realizar suas técnicas encontramos, independentemente de seu estilo, certas características que justificam sua condição de experiente:

1 - seus movimentos dão a sensação de ser perfeitos, econômicos, efetivos e belos.

2 - a forma em que ele se move parece simples, fácil e principalmente, a única possível.

3 - sua mente está absolutamente unida com seu corpo.

4 - sua mente-corpo está absolutamente ligado com o movimento.

5 - seu movimento está unido ao movimento do atacante.

6 - sua atenção não está fixa em nenhum lugar, está disponível para detectar qualquer mudança nas condições externas e internas, e responder corretamente.

7 - ao observá-lo, percebemos que a arte que ele pratica, está totalmente influenciada pela sua personalidade que se expressa através do movimento.

Toda esta descrição é lógica, mas exige muitas palavras e um esforço intelectual para compreender, isto ocorre por que nem a lógica nem o intelecto são ferramentas adaptadas para descrever uma Arte.

Do anterior desprende-se que mudando o modelo podemos explicar com muita mas profundidade e simplicidade a atividade realizada.

Dissemos com anterioridade, que o Ki era a conseqüência de um ato no qual se controlam muitas variáveis ao mesmo tempo (respiração, relaxamento, esfericidade, controle conducente, não resistência, mente livre, etc.)

Executar uma atividade com Ki é o mesmo que dizer que o executante tem KOKIU.

Para treinar o KOKIU requer-se KEIKO (treinamento) e KIHON (cópia perfeita, até ter o coração da técnica) e SHUREN (estudo) do KI.



Um verdadeiro artista marcial deve parecer-se a um antigo sábio renascentista, para ele, nada lhe era alheio ou indiferente independentemente da etiqueta com o que fosse nomeado (física, matemática, música, literatura, desporto, etc.).

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