segunda-feira, 16 de março de 2009

Arte Marcial para Defesa Pessoal ?

A pergunta certa é:

Treinando alguma Arte Marcial podemos ter 100% de certeza de agir da melhor forma possível no caso de ser atacados o tentar defender um outro numa situação de violência?

A resposta é: Não

Por que?

Quase não existe 100% de certeza em nenhuma atividade humana.

Podemos estar mais ou menos treinados para algumas situações, mas nunca para todas elas.

Podemos estar 90% seguros de nossa capacidade de resposta ante uma situação inesperada, mas se o 10% restante, nos estressa constantemente, provavelmente essa angustia seja muito mais perigosa para nossa saúde física e mental, que a probabilidade, remota, de nos deparar com uma situação violenta nos moldes das que sabemos resolver.

Mas, o treinamento regular de qualquer Arte Marcial seriamente, pode nos trazer soluções onde menos são esperadas.

Vou contar uma experiência pessoal que para mim, explica melhor o tema que milhares de palavras que tentem explicar isto intelectualmente.

Quando tinha aproximadamente 25 anos e com mais de 10 anos de treinamento em Karate e 5 em Aikido, ainda solteiro, viajava um Sábado na noite, da minha moradia suburbana, para o centro da cidade.


Para chegar lá, precisava pegar um ônibus e logo o trem.

Caminhava de frente para a estação do trem, sozinho pela rua, perpendicularmente a estação que também estava quase vazia, somente tinha uma pessoa de sexo masculino esperando trem para o lado contrario ao centro.

E justo apareceu o trem no sentido bairro (contrario ao centro), não desceu nenhum passageiro, e o trem continuou seu percurso.

Enquanto isso eu, estava fortemente necessitado de urinar e sabia que o banheiro público estava somente no lado dos trens centro-bairro (que de fato era o lado que ficava mais perto de mim).

Me sentia desesperado, pensando que não chegaria ao banheiro, mas ainda assim, senti que "alguma coisa não estava certa" em toda a situação e escolhi caminhar mais 100 metros, me desviando da direção que originalmente tinha, para usar o banheiro de uma lanchonete na avenida.

Depois de satisfazer minha urgência, voltei tranqüilamente para a estação (os trens somente passavam cada 40 minutos e ainda tinha tempo...) comprei minha passagem e fiquei olhando para o lado de frente onde estava a plataforma para os trens centro-bairro ...

Ainda me incomodava o fato, de ter caminhado quase 100 metros demais, somente por um "impulso" sem muitas razões lógicas.

O cara que tinha visto, ainda continuava na plataforma, sozinho...

E chegou um outro trem no sentido centro-bairro.

Dele desceu um cara jovem, também sozinho, que caminhando rapidamente, entro no banheiro da plataforma, atrás dele entrou também o cara que esperava desde antes.

Passaram mais de 5 minutos e ninguém saía do banheiro (o qual é bastante extranho num banheiro publico masculino) e decidi, por curiosidade, comentar isso com o cara que vendia as passagens do trem.

Ele, rapidamente, ligou para a policia e me comentou que isso era muito comum nas ultimas noites:

Um cara estava dentro do banheiro com uma arma, e outro fora, quando o trem deixava um passageiro e ele entrava no banheiro, o cara de fora também entrava e entre os dois atacavam e seguravam ao outro, roubando seus pertences e exigindo dele que não deixasse o local até que o trem próximo deixasse a plataforma.

Eles esperavam, esse trem chegar, subiam nele e repetiam toda a ação noutra estação.

Eu tinha me salvado por muito pouco....

Mas, qual foi a "mágica" que falou para meu instinto, que inclusive com a urgência quase desesperada de usar o banheiro me fez caminhar mais 100 metros, sem nenhuma razão lógica?

Sem nenhuma razão lógica?

Não tão assim.....

Por que o cara que esperava o trem, não pegou ele, estando sozinho, sem aspecto de esperar por ninguém e sabendo que nas noites a freqüência era tão ruim?

Existia uma lógica, para não passar perto dele, embora não fosse detectada diretamente pela minha consciência, alguma coisa me alertou que "algo não estava certo" e me fez agir contrariando minha necessidade mais imediata (ir ao banheiro mais próximo).

Sempre achei que esse tipo de "confiança no instinto", de acreditar nele, inclusive sem muita lógica, foi desenvolvido em anos de treinamento marcial, tentando "ler" o comportamento de meu adversário no treinamento de técnico nas aulas.

Percebi com clareza, que mais que saber-me defender o importante era apurar esses instintos, para "não estar no lugar onde podem aparecer os problemas" e se era inevitável, pelo menos estar preparado.

O seja: Eu nunca treinei Artes Marciais, para desenvolver a minha segurança pessoal somente, treinava por muitas outras coisas, sendo a principal delas que realmente "gostava muito de treinar".

Mas o investimento de anos e anos de treinamento, trouxe uma "conseqüência colateral inesperada" que, chegado o momento me ajudou a preservar minha integridade física, e nem sequer tendo que lutar!!

A conclusão e que sim, as Artes Marciais podem servir para a defesa pessoal, mas pegando estradas bastante tortuosas, quase nunca no sentido que nossos esperávamos e somente depois de anos e anos de treinamento, sem uma garantia de 100% de efetividade.

Mas, em meu casso, não somente foi bom, senão que me deixo uma clara resposta à essa pergunta que quase todos os Artistas Marciais sempre tentam responder, no que faz respeito a efetividade de seu treinamento.


2 comentários

Jorge Madson disse...

Excelente texto!
Em todos os aspectos.
Eu Concordo com sua forma pensar.
Seu texto ficou tão bom, que até parece ficção.

Falkyrie disse...

Ótimo texto, principalmente pra aquelas pessoas que fazem uma aula de defesa pessoal e acham que podem resolver qualquer problema na porrada.

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